domingo, 22 de maio de 2016

Vai Lá

Vai lá
Vai lá lutar contra a corrupção
Vai lá com a camisa da CBF
Vai lá dizer que o Brasil está se tornando Comunista
Vai lá sem saber que só existe inflação se for Capitalista
Vai lá dizer que onde que 54 milhões são maioria já que somos em 200 milhões
Vai lá sem saber que não são 200 milhões que podem votar
Vai lá falar sobre mulher sem ser mulher
Vai lá falar sobre homossexuais sem ser homossexual
Vai lá falar sobre ser negro sem ser negro
Vai lá ouvir “por Deus, pelo meu pai, pela minha mãe e pela minha neta Ana que esta fazendo aniversário”.
Vai lá lutar pelo fim das cotas nas universidades públicas
Vai lá dizer que militares são a opção do momento
Vai lá sem saber que era isso que diziam em 1964
Vai lá dizer que primeiro a gente derruba a Dilma, depois a gente derruba o Temer
Vai lá pedir Impeachment coletivo
Vai lá curtir a página do Bolsomito
Vai lá dizer que todo mundo que é contra o Golpe é Petista
Vai lá e diz que aquele que você julga Petista não sabe de nada
Diz também que todo artista que é contra essa tal “Revolução de 16” recebeu verba da Lei Rouanet
Nunca se esqueça que lugar de mulher é na cozinha
Que “gayzisse” se cura na porrada
Que quem não segue o catolicismo ou o protestantismo é satânico
Que não houve Holocausto
E que isso é uma invenção Judaica
Vai lá e diz “mas o Collor também sofreu Impeachment”
Vai lá dedicar seu posicionamento ao torturador
Dedica ao Hitler também
Compare o governo democrático brasileiro vigente com o Stalinismo
E diz “olha só a Coréia do Norte e Cuba como são desenvolvidos”
Vai lá convicto de quem está perdendo é a “querida”

Porém, para nós, não há o que temer.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Treze de Maio

Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direito - UFRJ. Instituição onde fora assinada a Lei Áurea.
     13 de maio de 1888. A Princesa imperial regente em nome de Dom Pedro II, Isabel, e Rodrigo Augusto da Silva sancionaram a Lei Áurea (Lei Imperial 3.353) e a escravidão no Brasil foi extinta. Assim como tudo o que acontece tem uma história por trás, a Lei Áurea foi precedida pela Lei Eusébio de Queirós (1850 – proibição do tráfico negreiro), pela Lei do Ventre Livre (1871 – libertou todas as crianças nascidas de pais escravos a partir daquela data) e pela Lei dos Sexagenários (1985 –libertava escravos com mais de 60 anos).

     13 de maio de 1890. Aluísio Azevedo lançava sua obra – talvez a mais famosa – O Cortiço. A data pode não ser apenas uma coincidência. Nessa obra naturalista, o autor denuncia a exploração e as péssimas condições de vida dos moradores das estalagens ou cortiços cariocas no século XX. Uma das personagens da história é Bertoleza, uma ex-escrava (conforme pensava ser) que servia com lealdade o companheiro João Romão, o dono do Cortiço e explorador das pessoas que lá viviam. Bertoleza ainda é uma escrava. Ela havia fugido do fazendeiro que tinha sua posse, encontrado com João Romão. Este por sua vez apresentou uma carta de alforria à Bertoleza, carta pela qual ela havia pagado para conseguir. Ufa! Bertoleza finalmente era livre. Como forma de gratidão se tornou fiel ao protagonista da história. Ela o tratava como cônjuge, e ele a tratava como doméstica. Bertoleza fazia tudo o que João Romão pedia. Certa vez, bate em sua porta o filho do ex-patrão que exige a volta da escrava para a fazenda. Bertoleza descobre a falsidade da Carta de Alforria. Bertoleza se mata. A morte, para a personagem ,era como a salvação única que tinha para não voltar ao seu posto de escrava.


     1988. Unidos de Vila Isabel, escola de samba do Rio de Janeiro, homenageia o centenário da Lei Áurea levando Zumbi dos Palmares à Marquês de Sapucaí:

“Valeu Zumbi
o grito forte dos Palmeres
que correu terras, céus e mares
influenciando a abolição”

     1989. A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, também do Rio de Janeiro, entrou na Avenida do Samba para comemorar a Lei Áurea, ainda em comemoração ao centenário da Lei:

“Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz.”


      13 de maio de 2016. Ninguém se lembra da data. Estão todos ocupados demais para uma simples reflexão sobre a liberdade prometida que jamais foi cumprida. Quando deixaremos de ouvir que lugar de negro é na senzala? 


P.S.: O livro O Cortiço, foi lançado em 1890 porém sua história acontece antes de 1988, portanto, ainda havia escravidão no Brasil.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Inaugurando

    Bom, escolhi uma data a dedo para lançar esse espaço que almejo há tanto tempo (Mentira!, eu só tomei coragem mesmo para colocar no ar esse projeto que tenho há tanto tempo, confesso). Há algum tempo eu tenho vontade de contar minhas experiências, minhas aventuras, meus dramas, compartilhar minhas resenhas de livros e divulgar algumas peças de teatro (que eu amo).

     Eis que entrei no dilema do nome. Muitos nomes passaram pela minha cabeça até eu chegar nesse que começo a usar hoje. Os meus mais chegados irão entender de prontidão o título escolhido, os de fora apaixonados por literatura talvez se confundam um pouco, mas irei explicar.

    Mundo Póstumo surgiu de uma mescla de duas paixões que nutri durante o meus estudos no Ensino Médio. A primeira, Carlos Drummond de Andrade. A segunda, Machado de Assis. Eles me apresentaram os "Sentimentos de Mundo" e as "Memórias Póstumas". Feito? o MUNDO de Drummond e o PÓSTUMO(as) de Machado. Claro que não se resume a somente isso.

    "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é o minha obra favorita:

"ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver 
dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas"

    A obra me encanta pois nela está expressa tudo o que pode ter de mais encantador (ou constrangedor) da nossa literatura - ao menos ao meu ver. Nela, Machado de Assis faz que tenhamos longos diálogos com um DEFUNTO AUTOR (e não um autor defunto), ficamos bravos com o Brás Cubas (dono de uma modéstia excepcional, afinal, seu livro poderia ser a Bíblia, só que ele começa com a morte do protagonista), nos confundimos muito em seu delírio e assim vai indo até que... BRÁS CUBAS MORRE! E a gente chega a até ficar triste com a morte dele, mas ele já havia dito que iria morrer, é assim que começam suas "Memórias". É tão incrível que nós conversamos com um autor que não existe de verdade, e que escreve depois de morto (e isso não é uma psicografia, é ele que escreve mesmo.. ele até diz que escreve o livro porque não tem mais nada há fazer do que olhar os pés dentro do caixão!).

    Ai me vem Drummond com seu Sentimento do Mundo, particularmente prefiro A Rosa do Povo, porém existe um poema no primeiro que realmente mexeu comigo durante o ano de 2015 inteiro,  mexe comigo hoje e vai mexer comigo sempre. "Mãos Dadas":

"o presente é tão grande, não nos afastemos,
não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas"

     E foi com essa frase que eu me despedi dos meus amigos em São Paulo e parti rumo ao sonho da Cidade Maravilhosa. Aqueles amigos que eu convivi durante o ano inteiro (nós só não dormíamos juntos, porque era o dia todo - literalmente todo - dentro daquele cursinho) e aí nós só tínhamos uns aos outros. Foi incrível! Creio que o ano de 2015 não se apagará jamais de nossas memórias. JAMAIS! Eu finalmente encontrei pessoas que gostassem de Chico Buarque e Tom Jobim (não estou reclamando dos meus amigos mais antigos não, mas é que eu queria muito cantar as musicas do Chico e do Tom com alguém - risos). Então, eu e um amigo começamos a declamar esses versos erroneamente:

"o mundo (sic) é tão grande, não nos afastemos
não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas"

e quando vimos o grupo todo já tinha aderido à "campanha" de nunca nos afastarmos porque o "mundo é tão grande", mesmo que longe a gente sempre estaria perto um do outro, sempre ali, lado à lado. E aí acabou que não era MUNDO e sim PRESENTE. Foi por esse motivo que escolhi Sentimento do Mundo ao invés de A Rosa do Povo. 

     Bom, é isso. Essa sou eu: uma geminiana (se é que isso quer dizer alguma coisa), com quase seus vinte anos, que desistiu da USP para realizar o sonho tão sonhado da Cidade Maravilhosa; de poucos amigos. De bons amigos.